quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

DECIFRANDO A "MENTE DE DEUS"

Por que sempre buscamos ver a natureza em ordem?

Somos amantes da regularidade.
O que foge aos padrões da normalidade, o comportamento irregular, inesperado, incontrolável, é sempre visto com censura ou mesmo com medo. Isso é tanto verdade na sociedade quanto na natureza.

Quando os primeiros humanos olharam na direção dos céus, perceberam que existiam dois tipos de fenômenos. Os que se repetiam regularmente, como o ciclo das estações do ano, e os inesperados, como o aparecimento de cometas.

Reconhecer esses padrões regulares se fez necessário para a nossa sobrevivência como espécie. Se um caçador na floresta via algo que fugia ao normal, logo ficava alerta. Podia ser um predador, um inimigo ou, com sorte, comida. Evoluímos com a capacidade mental de reconhecer padrões.
A matemática nada mais é do que a linguagem que criamos para descrever esses padrões. Na geometria, descrevemos os padrões espaciais, as formas da natureza e as suas simetrias. Na aritmética e na álgebra, lidamos com padrões entre números e suas relações.

Quando Pitágoras criou sua seita no sul da Itália, em torno de 600 a.C., seu objetivo místico-filosófico era a compreensão dos padrões da natureza através da matemática.

Para os pitagóricos, tudo era número. A essência do conhecimento começava com a matemática e terminava na descrição da mente do "criador" -da sua criação- como um elaborado mosaico de padrões. O filósofo era quem se dedicava a esses estudos, uma espécie de matemático-sacerdote. É natural supor que, com o desenvolvimento da ciência, essas idéias tenham caído em desuso.
Afinal, nenhum matemático ou físico moderno -ou quase nenhum- se diz um místico em busca de desvendar os segredos matemáticos da mente de Deus. Porém, é talvez surpreendente o quanto essa metáfora ainda é usada, o "desvendar a mente de Deus" como sendo o objetivo final da ciência. Um exemplo recente é o de Stephen Hawking em seu livro "Uma Breve História da Tempo". Como o dele, existem vários outros. Por que isso?

A história é longa demais para uma coluna (estou escrevendo um livro sobre o assunto), mas podemos começar a partir de Kepler. No início de século XVII, ele tentou criar um modelo geométrico do cosmo usando os cinco sólidos platônicos (o cubo e a pirâmide são dois deles). A idéia, meio genial e meio louca, era realizar o sonho pitagórico, obter o padrão geométrico da criação.

Pulando para Einstein, sua teoria da relatividade foi o próximo grande passo. Claro, o modelo de Kepler estava errado e a teoria de Einstein funciona muito bem.
Einstein, influenciado por Spinoza que, por sua vez, foi influenciado por Platão que, por sua vez, foi influenciado por Pitágoras, queria obter uma descrição geométrica do mundo, que ele atribuía à uma inteligência abstrata. Não o Deus judaico-cristão, com certeza. Mas a racionalidade que via manifesta nos padrões do mundo à nossa volta.

Einstein passou as últimas duas décadas de sua vida buscando por uma teoria unificada das forças gravitacional e eletromagnética. Para ele, essa unificação era inevitável, a expressão mais cristalina da inteligência da natureza.
Einstein falhou em sua empreitada, mas outros continuam buscando por essa unificação geométrica, a versão científica da "mente de Deus".

A falta de resultados experimentais indicando a direção certa dificulta muito as coisas. Ou, talvez a natureza esteja tentando nos dizer algo: a ordem que tanto buscamos nela é, na verdade, a ordem que buscamos em nossas vidas.

MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo

domingo, 7 de setembro de 2008

Gary Francione e os direitos animais

O que são direitos animais? Hoje, a teoria que os esclarece melhor é a do filósofo, advogado e ativista Gary Francione. Há mais de vinte anos, ele atua como consultor de organizações e militantes autônomos de proteção animal, ao mesmo tempo em que defende a completa abolição do uso de animais para fins humanos. Em seu modo de ver, a abolição não é só justa, é também possível.

Sua teoria pode ser conhecida pelo público brasileiro em textos traduzidos para a nossa língua, divulgados no site: http://www.gato-negro.org/content/blogsection/7/48/ Recomendamos, especialmente, o texto "Esclarecendo o significado de direitos", no qual identificamos três pontos básicos:

Valorização da senciência animal – Francione argumenta que todo animal senciente, isto é, capaz de experimentar sofrimento, é por necessidade consciente de si mesmo, sendo possuidor dos mais diversos interesses, um dos quais é viver livre de interferência alheia. Cada animal possui estas características à sua própria maneira, em função do que desenvolve um modo de vida particular, que pode ser bastante diferente do humano, mas nem por isso pode ser considerado inferior. Valorizar a senciência animal, portanto, consiste em estender o respeito às diferenças, que já foi consagrado na esfera humana, para o conjunto dos animais, reconhecendo-se que são indivíduos com uma existência independente da nossa.

Defesa do direito básico a não ser tratado como propriedade – Francione afirma que tratar um indivíduo como propriedade é a suprema violência que pode ser cometida contra ele, pois este tratamento significa reduzi-lo à condição de objeto, o que autoriza que seja usado para fins alheios e inviabiliza um reconhecimento efetivo de seus interesses. No passado, até mesmo seres humanos foram rotulados como propriedade, e só quando lhes foi reconhecido o direito básico a não serem tratados assim tornou-se possível respeitá-los. Francione aponta que os animais sofrem, ainda hoje, a imposição do status de propriedade, mas também são merecedores do direito à liberdade, de viverem sem intromissão alheia.

Defesa da abolição do uso de animais para fins humanos – A partir dessas considerações, Francione conclui que todas as formas de uso de animais são inaceitáveis, e é dever de nossa sociedade aboli-las. Isto se torna mais fácil na medida em que estes usos não nos proporcionam nenhum beneficio que não possa ser obtido de outras formas, bastando que deixemos de consumir os produtos da exploração animal, e assim motivemos uma gradual transformação na economia e nos costumes. Em primeiro lugar, cumpre que sejamos capazes de refletir sobre esta questão levando em conta a justiça, e não interesses que são apenas nossos.

Cabe lembrar aqui outro aspecto fundamental da teoria de Francione, e que ele desenvolve em outros textos. Trata-se da importância de assumir uma postura pessoal contra a exploração dos animais, evitando consumir qualquer um de seus produtos. Isto equivale a adotar o chamado veganismo, que implica em mudar padrões de consumo, seja na alimentação, seja no vestuário etc - o que é perfeitamente viável, embora possa exigir algum esforço de nossa parte. Segundo Francione, isto não representa uma tentativa de se alcançar um ideal de "pureza", pois isto é literalmente impossível numa sociedade baseada na exploração de outras espécies. Entretanto, ser vegano é o caminho mais seguro, se queremos ter certeza de que estamos fazendo o que está em nosso alcance para enfrentar esta realidade, contribuindo para transformar não só os métodos de produção na indústria, mas também o pensamento predominante em nossa cultura, no que diz respeito aos animais.

Não há dúvida de que os direitos animais, que consistem na abolição de seu uso por nós, têm o potencial de acarretar uma profunda mudança em nosso modo de vida. Mas será uma mudança no sentido de nos tornarmos mais humanos, deixando de impor nossa força sobre seres mais fracos. Os animais são totalmente vulneráveis a nós, e isto só aumenta nossa responsabilidade por eles, nunca o contrário.

CPDA – Comitê para Pesquisa, Divulgação e Defesa dos Direitos Animais

domingo, 3 de agosto de 2008

BIOLOGIA DENTRO DA CONSCIÊNCIA

Amit Goswami, O médico Quântico, págs. 98-99.



A biologia [...] necessita urgentemente de uma mudança de paradigma [...].


Comecemos com o problema da consciência. Os neurofisiologistas tentam aplicar sua metodologia reducionista para compreender a consciência como produto de processos cerebrais, interações neuronais. Mas como mostrou o filósofo David Chalmers, de que modo esse enfoque pode ter sucesso? Uma abordagem reducionista só pode ser bem-sucedida se criar um modelo para um objeto em termos de objetos mais simples, mas a consciência não é apenas um objeto, ele é também um sujeito.


Se a biologia não consegue explicar a consciência, é tempo de pensar se uma base metafísica do primado da consciência, a base que a física quântica está nos oferecendo, pode explicar os vários fenômenos que a biologia deixa sem explicação.


Para uma apropriada biologia dentro da consciência, precisamos pressupor que uma única célula viva já está articulada para medição quântica auto-referencial. Suponha que uma medição quântica para uma célula viva seja também uma hierarquia entrelaçada, semelhante ao caso do cérebro. Quando a conciência produz o colapso dos estados da célula, ela se identifica com a célula auto-referencialmente, uma identidade que chamamos de vida, algo distinto do ambiente.


Em sua natureza fundamental, essa identidade é uma identidade com a vida toda, uma vez que a vida toda tem origem nessa primeira célula viva. Acompanhando James Lovelock, chamo essa identidade "consciência de Gaia". Essa identidade fundamental então se propaga ainda mais num jogo alternado de criatividade e condicionamento, muito à semelhança do desenvolvimento do nosso ego.


[...] O ambiente, a natureza, não é realmente o nosso inimigo [...] o ambiente é nós. Sua separação de nós é um jogo ilusório.

terça-feira, 24 de junho de 2008

A ECOLOGIA PROFUNDA E OS NOVOS VALORES ÉTICOS

Recebi o texto abaixo do CPDA – Comitê para Pesquisa, Divulgação e Defesa dos Direitos Animais e estou divulgando, pois o conteúdo está muito de acordo com os objetivos desse blog que é o de apontar pontos de contato entre ecologia e espiritualidade:
"Por ecologia profunda podemos entender uma nova tendência do pensamento ecológico, que tem implicações tanto filosóficas como práticas muito importantes.
Uma definição essencial da ecologia profunda é apresentada por Fritjof Capra, no Capítulo 1 de seu livro "A teia da vida". Nesta definição, ressalta uma diferença básica em face do pensamento ecológico tradicional:
"A escola filosófica foi fundada pelo filósofo norueguês Ame Naess, no início da década de 70, com sua distinção entre 'ecologia rasa' e 'ecologia profunda'. (...)
"A ecologia rasa é antropocêntrica, ou centralizada no ser humano. Ela vê os seres humanos como situados acima ou fora da natureza, como a fonte de todos os valores, e atribui apenas um valor instrumental, ou de 'uso', à natureza. A ecologia profunda não separa seres humanos - ou qualquer outra coisa - do meio ambiente natural. Ela vê o mundo não como uma coleção de objetos isolados, mas como uma rede de fenômenos que estão fundamentalmente interconectados e são interdependentes. A ecologia profunda reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos e concebe os seres humanos apenas como um fio particular na teia da vida."
De modo que há na ecologia profunda uma concepção inovadora do ser humano e da natureza. Como foi dito, isto tem consequencias importantes que precisam ser compreendidas. A esse respeito, permitimo-nos fazer dois comentários:
1) A ecologia profunda conduz a uma visão que transmite o verdadeiro significado de nossa presença no mundo, que é o de sermos um elo na cadeia da vida, e não a causa ou a finalidade de tudo que existe. Enquanto nos consideramos muito especiais, sentimo-nos justificados para impor qualquer dano à natureza e aos outros seres, sempre que isto nos permite realizar algum fim que julgamos importante para nós. Na verdade, somos tão efêmeros como o mundo que nos cerca. Não nos tornaremos mais do que isso pela prática de vandalismo contra a natureza e crueldade contra os seres em nosso redor. Mas podemos evitar que tais atitudes degradem a nós mesmos, através de uma postura digna em face da natureza e das espécies vivas.
2) A ecologia profunda nega a hierarquia de valor que coloca o ser humano acima de tudo que existe. Isto equivale a afirmar que o ser humano tem um valor que lhe é próprio, o mesmo se aplicando a cada ser vivo no planeta. Negar a hierarquia, portanto, significa esquecer noções de superioridade, inferioridade ou mesmo igualdade, pois todas estas implicam em rotular os seres, numa comparação com outros. Na verdade, cada elemento no universo cumpre o seu próprio fim, independentemente do valor que lhe atribuímos. Evitar a hierarquia é ver a natureza e os seres vivos como são de fato, sem apontar o que têm de "certo" ou "errado", com base em critérios que só servem para nós mesmos.
Estas considerações sugerem que a humanidade, embora possa continuar buscando a satisfação de seus interesses, precisa avaliar até que ponto esses interesses são eticamente legítimos, e em alguns casos deve até mesmo desistir de alguns deles. Há que se levar em conta estes fatores: o equilíbrio das relações naturais - o que já começamos a fazer, mas de maneira ainda muito incipiente; e a capacidade de alguns seres, nomeadamente os animais, de sentirem o impacto de nossas ações - o que proíbe que façamos a eles o que não queremos para nós mesmos.
A partir do momento em que conseguimos reconhecer outros valores em nosso redor, tornamo-nos obrigados a considerar estes valores em todos os nossos atos. Até hoje, nós seres humanos ainda não conseguimos sequer levar em conta o nosso próprio valor, haja vista que nos prejudicamos de tantas maneiras. Talvez, apenas quando ampliarmos o alcance de nossa ética, conseguiremos usá-la para beneficiar a nós mesmos."
Referência: Capra, Fritjof. A teia da vida. (Capítulo 1). Excerto no site: http://www.humanas.unisinos.br/professores/hbenno/ecolprof.htm
Gratos pela atenção,
CPDA – Comitê para Pesquisa, Divulgação e Defesa dos Direitos Animais
DIVULGAÇÃOwww.gatoverde.com.brem Defesa dos Direitos Animais

sexta-feira, 20 de junho de 2008

PALAVRAS DO MESTRE

O cientista que raciocina segundo o plano da percepção dos sentidos é o que se acha mais afastado do reconhecimento da verdade, porque toma as ilusões produzidas pelos sentidos como realidades e repele as revelações de sua própria intuição. O filósofo, incapaz de perceber a verdade, procura adquiri-la por meio da inteligência, podendo dela aproximar-se até certo ponto. Só aquele que adquiriu a condição consciente da verdade, reconhecendo-a por percepção direta, a ela se acha intimamente unido e não pode absolutamente enganar-se.
Henrique José de Souza

quinta-feira, 19 de junho de 2008

O CÉREBRO HOLOGRÁFICO

O princípio holográfico, além de ser um modelo de reflexo do Universo nas partes, tem sido usado para explicar como o cérebro processa a informação. Neurologistas têm ficado cada vez mais surpresos com pesquisas que demonstram que a memória se distribui por todo cérebro indistintamente, e as lembranças não se localizam numa região específica, como se pensava anteriormente. O Prêmio Nobel em neurofisiologia, Dr. Karl Pribam, sugere que, como num holograma, as sensações que chegam até o cérebro são gravadas em todas as suas partes.
O processo de evocar uma determinada memória equivale à reprodução de uma imagem holográfica. Segundo Pribram, o cérebro é um holograma e reproduz um padrão holográfico.
Para provar que o que perceberam estava errado, o biólogo da Universidade de Indiana, Paul Pietsch, idealizou uma experiência um tanto quanto tétrica. Pietsch havia observado que podia remover o cérebro de uma salamandra sem matá-la e, embora o animal permanecesse em letargia sem o cérebro, seu comportamento voltava completamente ao normal assim que este era recolocado. Pietsch tomou os hábitos alimentares da salamandra como referência para suas experiências. Então, inverteu os hemisférios esquerdo e direito do cérebro e, para seu espanto, assim que ela se recuperou rapidamente voltou à alimentação normal. Pietsch tentou várias alternativas: virou o cérebro de cabeça para baixo, cortou-o em fatias, baralhou, e, chegou a picar em pedacinhos os cérebros de suas infelizes cobaias. No entanto, sempre que recolocava o que havia sobrado desses cérebros, ou parte deles, o comportamento dos animais voltava ao normal. Desnecessário dizer que Pietsch mudou de idéia, passando a considerar a teoria de Pribram.



A MEMÓRIA INFINITA

Entre várias características peculiares ao holograma, vale a pena destacar uma outra, além da que relaciona o todo com as partes. Esta segunda característica é o fato de que os hologramas têm uma capacidade fantástica de armazenar informações, podendo gravar uma infinidade de imagens sobre uma mesma chapa. Assim, quando modificamos o ângulo da chapa, uma determinada imagem aparece e a outra que estava projetada desaparece.
Esse efeito se relaciona ao ângulo de incidência no qual os dois feixes de raio laser atingiram o filme fotográfico ao gravar uma determinada imagem. Ela só se projetará no espaço tridimensional quando for iluminada por um raio laser projetado no mesmo ângulo em que a imagem foi gravada originalmente. Assim, é possível registrar muitas imagens diferentes sobre a mesma superfície, cada uma com o seu respectivo "ângulo de reprodução". Os pesquisadores calcularam que um pequeno pedaço de filme poderia armazenar milhões de imagens, cada uma podendo ser evocada através do seu ângulo original de gravação. Uma chapa assim gravada mostra uma multiplicidade de imagens projetando-se seguidamente ao ser girada diante do laser.
Esta segunda característica explica possíveis mecanismos de recordação de fatos. Sendo o cérebro um holograma, quando nos colocamos num determinado "ângulo de lembrança", iremos evocar aquela recordação em particular, ou seja, a nossa capacidade de lembrar é análoga ao ato de emitir um feixe de raio laser em direção a um desses pedaços de filme evocando uma imagem específica. Da mesma forma, quando somos incapazes de lembrar alguma coisa, isto corresponde a emitir vários feixes a um pedaço de filme com múltiplas imagens, mas sem encontrar o ângulo certo para recuperar a "imagem" que estamos procurando. Os pesquisadores dessa área estão convictos que a visão que os moribundos têm na hora da morte, quando "vêem" a vida inteira numa fração de segundo, equivale, no sistema holográfico cerebral, ao ato de girar rapidamente uma chapa holográfica com milhões de imagens gravadas diante do laser.

O Universo Holográfico - Michael Talbot

CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE

O HOLOGRAMA
David Bohm

O holograma é uma invenção dos anos 60, e de forma geral é um mecanismo óptico que produz imagens tridimensionais. Seu princípio foi descoberto em 1947, mas o modelo só pôde ser construído após a invenção do laser. Para produzi-lo, divide-se um único raio laser em dois feixes separados. O primeiro feixe é projetado no objeto a ser fotografado. Então, faz-se com que o segundo feixe colida com a luz refletida do primeiro. Quando isso acontece, eles produzem um padrão de interferência que é registrado num filme. Iluminada pela luz natural, a imagem do filme não se parece em nada com o objeto fotografado, mostrando um conjunto de curvas concêntricas entremeadas, num desenho indecifrável. Mas, assim que um outro feixe de raio laser ilumina o filme, uma imagem tridimensional do objeto original reaparece em pleno espaço, podendo ser vista por cima, por baixo ou por qualquer lado, mas não podendo ser tocada. Esta imagem holográfica apresenta algumas características que estão deixando os cientistas intrigados e perplexos.
Suponhamos que o objeto fotografado seja uma maçã. Peguemos então o filme holográfico e vamos dividi-lo ao meio, em dois pedaços. Projetemos agora o laser sobre uma dessas metades. O que vemos projetados no espaço a três dimensões? Meia maçã? Nenhuma maçã? Não! Se projetarmos o laser em qualquer uma das metades, ainda assim obteremos a maçã inteira projetada no espaço. E se continuarmos partindo a foto em milhares de pedaços e projetarmos o laser sobre um minúsculo fragmento, ainda assim obteremos a maçã inteira projetada a três dimensões. Uma imagem menos nítida, mas ainda assim a maçã inteira. Nesta foto mágica, cada parte contém a totalidade, cada uma das partes da imagem interpenetra todas as outras.
O TODO NAS PARTES
Esta característica do holograma - a parte no todo e o todo nas partes - tem assustado os cientistas e modificado algumas concepções importantes sobre o Universo. Segundo o físico nuclear David Bohm, o Universo inteiro funciona como um holograma, em que cada uma das partes interpenetra as outras. Qualquer alteração se transmite ao Todo. Cada célula do nosso corpo reflete o cosmo inteiro. Da mesma forma, todo passado e as implicações para todo futuro também estão presentes em cada minúscula porção do espaço e do tempo. Resumindo, a totalidade de tempo e espaço encontra-se presente em cada ponto de tempo e de espaço. Impressionante!
Nós contemos o Universo inteiro no nosso mundo, no nosso corpo, nas nossas células. É devido a este princípio que a acupuntura permite alcançar todo corpo através de uma determinada parte do mesmo, por exemplo, a orelha. O corpo inteiro está presente na orelha, como mostra o diagrama do "Homenzinho na Orelha". Os iridologistas, por sua vez, vislumbram as condições de todo corpo pelos desenhos da íris; no "Do-in" pode-se fazer o mesmo pelos pés, e os quiromantes lêem a vida física e temporal na palma das mãos. São todos desdobramentos do mesmo princípio que rege o holograma. Na verdade, cada parte do corpo o contém inteiro, numa perspectiva espaço-temporal, da mesma forma que cada pequena entidade do Universo reflete o padrão de sistemas infinitamente maiores, e da própria totalidade. Esta idéia foi maravilhosamente expressa por William Blake no seu célebre verso em "Auguries of Innocence": Ver o mundo num grão de areiaE o céu numa flor silvestre, Segurar o infinito na palma da mão, E a eternidade numa hora.

domingo, 8 de junho de 2008

VIDA E PROCESSO MENTAL

A mente não é uma coisa mas sim um processo - o próprio processo da vida. Em outras palavras, a atividade organizadora dos sistemas vivos, em todos os níveis da vida, é a atividade mental. As interações de um organismo vivo - planta, animal ou ser humano - com seu meio ambiente são interações cognitivas, ou mentais.
Desse modo, a vida e a cognição se tornam inseparavelmente ligadas. A mente - ou, de maneira mais precisa, o processo mental - é imanente na matéria em todos os níveis da vida.
Qualquer sistema vivo é capaz de desenvolver os processos que associamos com a mente - aprendizagem, memória, tomada de decisões, e assim por diante. Esses processos mentais são uma conseqüência necessária e inevitável de uma certa complexidade que começa muito antes de os organismos desenvolverem cérebros e sistemas nervosos superiores. A mente não se manifesta apenas em organismos individuais, mas também em sistemas sociais e ecossistemas.

Quando ohamos para o mundo vivo, reconhecemos a atividade organizadora como sendo, essencialmente, uma atividade mental. A mente é a essência do estar vivo.
O cérebro não é necessário para que a mente exista. Uma bactéria, ou uma planta, não tem cérebro mas tem mente. Os organismos mais simples são capazes de percepção, e portanto de cognição.

Para essa nova concepção de cognição, o proceso do conhecer, é, pois, muito mais ampla que a concepção do pensar. Ela envolve percepção, emoção e ação - todo o processo da vida; não envolve necessariamente o pensar.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

PALAVRAS DO MESTRE

"A leitura meditada é o diálogo mudo entre duas almas que em uma só se confundem"
"A mim não importa o que sei; importa, sim, o que ainda não sei; porém, aquilo que ignorarei para sempre é o que mais me entristece e subjuga.”
Prof. Henrique José de Souza

domingo, 25 de maio de 2008

"CADA CRIATURA VIVA DEVE SER VISTA COMO UM MICROCOSMO"

"É impossível sondarmos a complexidade de um ser orgânico, mas, segundo a hipótese aqui proposta, essa complexidade cresce enormemente. Cada criatura viva deve ser vista como um microcosmo - um pequeno universo, formado por uma multidão de organismos autopropagadores, inconcebivelmente diminutos e numerosos como as estrelas do firmamento."
CHARLES DARWIN

sábado, 24 de maio de 2008

FÍSICA QUÂNTICA E ESPIRITUALIDADE

Nessa palestra, o Prof. Laércio Fonseca, nos dá um novo conceito de espiritualidade e nos mostra sua relação com a física quântica.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

segunda-feira, 19 de maio de 2008

SISTEMAS COGNITIVOS



"Sistemas vivos são sistemas cognitivos, e a vida como um processo é um processo de cognição. Essa afirmação vale para todos os organismos, co ou sem um sistema nervoso."


Humberto Maturana - Biology of Congnition, 1970.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

CONSCIÊNCIA, MATÉRIA E MENTE

"Consciência não é mente; consciência é o fundamento de todo ser, o fundamento tanto da matéria como da mente. Matéria e mente são ambas possibilidades de consciência. Quando a consciência converte essas possibilidades num evento de colapso de experiência real, algumas possibilidades sofrem o colapso como físicas e algumas como mentais.

Desse modo, a consciência é claramente mediadora da interação entre mente e corpo, e não existe dualismo. [...]

Estamos tembém enunciando um novo tipo de paralelismo psicofísico. O filósofo Gottfried Leibniz (1646-1716) propôs uma alternativa que, segundo ele, poderia evitar a armadilha dualista do interacionismo mente-matéria cartesiano. Mente e matéria nunca interagem, dizia ele, apenas trabalham em paralelo. Outros filósofos, porém, foram cautelosos como essa idéia, por causa desse enigma: O que mantém o paralelismo? Assim, tembém a filosofia de Leibniz dá sinais de dualismo.

Hoje, finalmente, depois de alguns séculos, com o pensamento quântico, vemos a solução das dificuldades inerentes às filosofias de Descartes e de Leibniz. O que faz a intermediação da interação mente-matéria? A consciência. O que mantém o funcionamento paralelo da mente e do cérebro? A consciência.[...]

[...] não é de espantar que sejamos induzidos a acreditar em objetos separados independentes; dessa perspectiva de separação, participamos de ações que podem aumetnar o nosso senso de separatividade (como quando atribuímos significados limitado à nossa experiência) ou diminuí-lo (como quando expandimos criativamente o significado). No primeiro caso temos o sofrimento, naturalmente, mas podemos não percebê-lo de imediato. A doença é um lembrete para mudar o nosso modo de ser e corrigir a direção da nossa jornada para a totalidade, o destino para onde a cura nos leva."

Dr. Amit Goswami - O Médico Quântico.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

MEIO AMBIENTE E BUDISMO (AS RAZÕES DO SOFRIMENTO HUMANO)

"A filosofia budista contém algumas das mais lúcidas exposições sobre a condição humana e suas raízes na linguagem e na consciência. O sofrimento humano existencial surge, na visão budista, quando nos apegamos a formas e a categorias fixas criadas pela mente, em vez de aceitar a natureza impermanente e transitória de todas as coisas. Buda ensinou que todas as formas fixas - coisas, eventos, pessoas, idéias - nada mais são que maya. [...] A partir da ignorância (avidya), dividimos o mundo percebido em objetos separados, que percebemos como sendo sólidos e permanentes, mas que, na verdade, são transitórios e estão em contínua mudança. Tentando nos apegar às nossas rígidas categorias em vez de compreender a fluidez da vida, estamos fadados a experimentar frustração após frustração.

A doutrina budista da impermanência inclui a noção de que o eu não existe. [...] Ela sustenta que a idéia de um eu individual, separado, é uma ilusão, é apenas uma outra forma de maya, uma concepção intelectual destituída de realidade. O apego a essa idéia de um eu separado leva à mesma dor e ao mesmo sofrimento [...].
A ciência cognitiva chegou exatamente à mesma posição. De acordo com a teoria de Santiago, criamos o eu assim como criamos objetos. Nosso eu, ou ego, não tem nenhuma existência independente, mas é o resultado do nosso acoplamento entrutural interno. [...]

Nosso impulso para nos agarrar a uma terra interior é a essência do ego-eu e é a fonte de contínua frustração. [...] Em outras palavras, nosso agarrar-se a uma terra, seja ela interior ou exterior, é a fonte profunda de frustração e de ansiedade.

[...] Somos indivíduos autônomos, modelados pela nossa própria história de mudanças estruturais. Somos autoconscientes, cientes da nossa identidade individual - e, não obstante, quando procuramos por um eu independente no âmbito de nosso mundo de experiência, não conseguimos encontrar nenhuma entidade desse tipo.


A origem de nosso dilema reside na nossa tendência para criar as abstrações de objetos separados, inclusive de um eu separado, e em seguida acreditar que elas pertencem a uma realidade objetiva, que existe independentemente de nós. [...]

O poder do pensamento abstrato nos tem levado a tratar o meio ambiente natural - a teia da vida - como se ele consistisse em partes separadas, a serem exploradas comercialmente, em benefício próprio, por diferentes grupos. [...] A crença segundo a qual todos esses fragmentos - em nós mesmos, no nosso meio ambiente e na nossa sociedade - são realmente separados alienou-nos da natureza e de nossos companheiros humanos, e, dessa maneira, nos diminuiu. Para recuperar nossa plena humanidade, temos de recuperar nossa experiência de conexidade com toda a teia da vida. Essa reconexão, ou religação, religio em latim, é a própria essência do alicerçamento espiritual da ecologia profunda."

Fritjof Capra - A Teia da Vida

segunda-feira, 5 de maio de 2008

OS GRANDES DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

Mario Soares, ex-presidente e ex-primeiro-ministro de Portugal.

"O mundo - e o Ocidente, em particular - estão atravessando uma fase de transição e de grande insegurança, que, por se manifestar em diferentes planos, torna imprevisíveis os próximos tempos. No plano econômico estamos à beira de uma recessão econômica internacional que começou nos Estados Unidos e está se refletindo na Europa e no resto do planeta. Ainda não sabemos se irá se agravar ou começará a ser superada, o que não depende apenas do Ocidente, mas também de múltiplos fatores internacionais, como o aumento ou a baixa dos preços do petróleo, ou o comportamento das economias emergentes.
O capitalismo especulativo está em um pantanal, já que a economia especulativa tem hoje pouco a ver com a economia real. Cria-se e perde-se grandes fortunas nos paraísos fiscais, onde circula impunemente o chamado dinheiro sujo, proveniente da droga e de outros comércios ilícitos (tráfico ilegal de armas, de órgãos humanos, da prostituição, etc) enquanto a economia real está gerando desemprego, paralisação econômica, inflação, crise na bolsa e no crédito imobiliário, irregularidades e quebras de instituições bancárias e de seguros ate agora consideradas intocáveis.
Por sua vez, as organizações financeiras internacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional - que não dependem, como deveria ser, das Nações Unidas - se mostram obsoletas e incapazes de enfrentar a crise financeira em curso. O mesmo se pode dizer da Organização Mundial do Comercio - também fora do âmbito da ONU - onde os necessários consensos com os países emergentes e em desenvolvimento são cada vez mais difíceis de serem estabelecidos.
Nestes tempos de globalização - não apenas econômica, mas também científica, tecnológica, informática e de um novo fenômeno que é a nascente formação de uma opinião pública mundial - os grandes problemas que afetam o mundo ainda não encontram uma resposta global, que apenas poderia consistir em uma profunda reestruturação da ONU e de seu Conselho de Segurança. E o G-8, que agrupa as maiores potências, não passa de um diretório das nações ricas,c arente de legitimidade para orientar o mundo, como mostra a experiência dos últimos anos. Existe, portanto, um grave vazio na ordem mundial.
Quais são os maiores problemas que afetam o mundo contemporâneo e que, senão forem resolvidos em um prazo razoável envolvem uma ameaça para a humanidade? Enumero por ordem de importância. Em primeiro lugar as mais graves questões ambientais? O buraco na camada de ozônio, o aquecimento da Terra e as mudanças climáticas, a contaminação da água e do lençol freático, a desertificação, a redução da biodiversidade, o progressivo desaparecimento das florestas, a degradação urbana.
A fome e a pobreza endêmica que afetam mais de dois terços da população mundial apesar de a ciência e a tecnologia disporem de recursos para eliminar facilmente esses problemas com a condição de que haja vontade política para enfrentá-los. A violência - fomentada pela violência cotidiana propagada pelos meios de comunicação - os conflitos, as guerras, o comércio ilimitado de armas e a corrida armamentista nuclear às quais são incapazes de por um freio as potências e as instituições internacionais.
As pandemias com a da Aids e outras doenças que haviam sido erradicadas e que ressurgem, com a tuberculose, a malária e outros desafios que somente podem ter uma resposta global. O fanatismo religioso e político, a perda de valores nas sociedades consumistas e hedonistas de nosso tempo, o desprezo pelos problemas sociais, ambientais e pelos direitos humanos.
Tudo isto forma uma profunda crise mundial, comparável à vivida no começo da Segunda Guerra Mundial, depois das avassaladoras vitórias militares de Hitler e do imperialismo japonês, quando alguns pessimistas vislumbravam "um retrocesso de mil anos". Mas nessa oportunidade, como agora, não podemos -nem devemos - perder a esperança e deixar de lutar pelos valores do humanismo universal.
A ordem mundial é novamente multilateral. O império norte-americano como tal está em vias de desaparecer. As soluções para os problemas que enfrentamos não dependem apenas, como se pensava no começo deste século, do Ocidente (Estados Unidos e Europa). Hoje também contam os chamados países emergentes, Brasil, Rússia, China e India - e outros mais como Japão, México, África do Sul, Irã, Egito e Turquia. Isto quer dizer que o Ocidente deve entender que tem de negociar com esses países, bem como ajudar na reforma da ONU se quer realmente enfrentar os grandes desafios de nosso tempo.
Muito depende ainda dos Estados Unidos e de seu próximo presidente. Seja quem for, terá que mudar radicalmente as políticas interna e externa de Wasghinton, que quiser evitar que sua nação entre em decadência. Por sua vez, a União Européia deve ter a coragem de definir uma estratégia autônoma e indicar o rumo que seguirá nos próximos anos na esfera institucional e como ator global no cenário internacional."
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14969

INTEGRAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE

"Um nível crítico de confusão satura o mundo contemporâneo. Nossa fé nos componentes espirituais da vida - na realidade vital da consciência, dos valores e de Deus - está sendo corroída sob o ataque implacável do materialismo científico. [...]

Nos últimos 400 anos, adotamos gradualmente a crença de que a ciência só pode ser cosntruída sobre a idéia de que tudo é feito de matéria - os denominados átomos, em um espaço vazio. Viemos a aceitar o materialismo como dogma, a despeito de sua incapacidade de explicar as experiências mais simples de nossa vida diária. Em suma, temos uma visão de mundo incoerente. As tribulações em que vivemos alimentaram a exigência de um novo paradigma - uma visão unificadora do mundo que integre mente e espírito na ciência. [...]

Podemos construir uma ciência que abranja as religiões do mundo, trabalhando em cooperação com elas para compreender a condição humana em sua totalidade. O núcleo desse novo paradigma é o reconhecimento de que a ciência moderna confirma uma idéia antiga - a idéia de que consciência, e não matéria, é o substrato de tudo que existe."

Amit Goswami - O Universo Autoconsciente


domingo, 4 de maio de 2008

ECOLOGIA PROFUNDA

“O novo paradigma pode ser chamado de visão de mundo holística, que concebe o mundo como um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas. Pode também ser denominado visão ecológica, se o termo “ecológica” for empregado num sentido muito mais amplo e mais profundo que o usual. A percepção ecológica profunda reconhece a interdependência fundamental de tosos os fenômenos, e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da natureza.”

“[...]a percepção da ecologia profunda é percepção espiritual ou religiosa. Quando a concepção de espírito humano é entendido como o modo de consciência no qual o indivíduo tem uma sensação de pertinência, de conexidade, com o cosmos como um todo, torna-se claro que a percepção ecológica é espiritual na sua essência mais profunda.”

Fritjof Capra - A Teia da Vida